O lado B...

Viver na cidade é bom.

É bom das vezes que temos necessidade do reboliço, da acção, das luzes, da cultura, das noites animadas e dos amigos que aqui se encontram.

Mas também é mau.

Pode ser claustrofóbico e extenuante.

As filas de trânsito durante a semana para irmos trabalhar, ao fim de semana para ir para a praia ou para o shopping. O barulho e as luzes que nunca se apagam chegam a cansar.

Hoje senti saudades do meu Brunhoso (culpa da miss Marta e da miss Pat, ou da posta).

Saudades do silêncio, das luzes que se apagam à noite. Dos pirilampos que brilham nos muros. Das vaquinhas que pastam, das ovelhinhas que correm sem destino. Dos mergulhos no rio sabor, das tantas cerejas que comi sentada no ramo da árvore (imaginem o resultado). Adoro aquele cheirinho a fumeiro quando entramos na casa da tia Maria para dar um daqueles beijos repenicados e ouvir um: ai estás tão grande. Adoro passear nas ruas incertas da aldeia (ainda não foi lá o senhor engenheiro), sem destino. Cumprimentar os que passam, entrar na casa do povo para jogar uma partidinha de matrecos e acabar num prado qualquer de papo para o ar a sentir as formiguinhas passearem-me pelo corpo.

Gosto da gargalhada que me sai quando algum distraído pisa, em cheio, um valente poio de bosta. Gosto da "guita" que fica fora da porta para que todos possam entrar sem ter que tocar a campainha. Gosto dos ninhos que as andorinhas fazem na varanda do meu quarto. E gosto muito de me sentar na soleira da porta a ler os escritos do meu avô enquanto os putos descem pelo caminho a ver quem cai primeiro.

Mas o que mais gosto é, de á noite, sentada num qualquer banco de pedra, outrora prato dos burros que por ali passavam, olhar para o céu. Olhar, até me cansar, até me doer o pescoço..

Tenho que lá voltar.. E levo-vos comigo e rebolamos monte abaixo sentimos a liberdade e as coceguinhas das ervas .......