Virei a cabeça apenas por um segundo... Foi o suficiente para uma explosão de cores primárias pintarem o céu negro e sem estrelas daquela noite de Verão. Apenas um segundo para a música começar a tocar e todos os tolos começarem a pular em volta de uma fogueira improvisada no chão do terraço quente. Apenas um segundo para te perder de vista.Ainda tentei ir atrás do teu perfume mas a pólvora queimada toldou-me o olfacto e a visão. "Merda... Porra!" Procurei-te por toda a parte: fui até ao bar improvisado numa mesa de campismo, entrei no WC enfeitado com a fitinha cor de rosa, fui expulso do WC enfeitado com uma fitinha cor de rosa... encontrei as tuas amigas. Metade estava demasiado ocupada a falar mais alto do que as outras e o resto tinha o olhar colado no rabo do meu melhor amigo."Merda... Porra para as gaijas" e ali fiquei por um minuto ou dois a pensar no que me querias dizer... depois fui beber e tentar arranjar uma mortalha.“Onde raio te meteste-te?”, pensei mais uma vez enquanto aguardava que me servissem uma Vodka Red Bull… Vejo o suposto empregado de bar com a cabeça enfiada no meio das garrafas. “Será que mais uma vez acabou a vodka? Cambada de bêbedos”, penso eu. Ah, afinal parece que não…Olho em volta, de copo na mão… Quem será que me pode arranjar uma mortalha? De repente, vislumbro o teu casaco rosa paixão no meio da multidão! “Merda… Porra!” Não estás sozinha… Um gajo qualquer de t-shirt amarelo vivo está a falar contigo… Quem será o “canário”? Não me aproximo… Vou ficar a aguardar que o gajo baze, sem tirar os olhos de ti… Reparo então que ele está de charuto na mão. Se calhar consigo resolver duas situações de uma vez só… Aproximo-me, mas nem consigo abrir a boca, pois de repente aparecem as tuas amigas, saídas do nada, feitas tolas, a gritar “Shot! Shot! Shot!” e puxam-te para o meio da multidão.O gajo tenta meter conversa: “Conheces?”, pergunta ele. Continuo a ouvir os gritos das tuas amigas, mas já não te vejo… “Merda… Porra! E agora fico aqui a aturar este cromo?” Resolvo pedir-lhe uma mortalha rapidamente, para disfarçar e digo “Não, não…”Invento uma desculpa e saio dali o mais rápido possível. Tenho de ir ao bar! Ela tem de estar lá! E no meio da multidão, em direcção ao bar, só penso: “Como é que vou conseguir falar com ela, no meio de 10 gaijas?”Sento-me.A dúvida pisca dentro da minha cabeça qual néon verde alface.Perdido em pensamentos velozes fico sem forças para continuar a procurar-te. Sinto-me sozinho no meio da multidão. Porra .. merda.. O que faço??.Sem grande convicção olho para o bar, mas a única coisa que consigo ver são bailados de vestidos e cores que me confundem, me deturpam a visão e me fazem perder-te.Bebo mais um golo para animar mas só penso em desistir. Tu não estás aqui, não te consigo encontrar, não consigo sequer encontrar a merda de uma mortalha.Continuo sentado a observar os tolos que se deixam levar pela batida da música mas nem sinal de ti.Começo a achar que sou mesmo estúpido. Não me ligas bolha, passeias-te com as tuas amigas, passas por mim e tratas-me como mais um dos teus milhões de amigos que encontras encostado ao bar a tentar sacar uma qualquer que lhe aqueça os pés por mais uma noite. Tanta gaja boa e eu só te quero a ti.Acendo um cigarro, ouço os primeiros acordes de uma música que me faz viajar, começo a bater o pé, deixo-me levar pelas recordações até que uma mão fria pousa suavemente no meu ombro. Espreito. Do outro lado vejo um sorriso que me diz:Olá, por aqui?E eu só vi esse casaco rosa que é paixão, a minha mente fez filmes, galopou por cenário hipotéticos e então eu vi... Esse rosa,é rosa, mas um rosa que não é mais paixão. Puta que pariu...a minha ex, aqui??? é que só me faltava essa, e pior é que enquanto sonhava deixei queimar a porra do charuto e com ele os dedos! E eu só penso neste dia e como hei-de sair daqui enquanto ela fala e fala e fala e fala....vou-me repetir:"Merda... Porra para as gaijas". Ela fala e o canário vem aí outra vez...
Bom, tento distrair a minha audiçao e concentrar-me na porcaria da música, mas a minha mente já parece uma supernova: o amarelo da t-shirt cada vez mais canário e o rosa cada vez mais florescente (porra pá, que coisa mais pirosa, ela não se enxerga!).
Mas, eis que, no meio de "...então, já vi que ainda não deixaste essa pocaria..." ou"... a tua mãe, como está?", a gaija sai com: “estás a ver aquele ali…a dançar? Aquele com o pólo pelas costas, ao lado daquele com a t-shirt amarela… É o meu namorado!”
Que cromo! Definitivamente ela não se enxerga… O que é isto? Até me dá pena vê-la andar de cavalo para burro: camisinha da sacoor, por favor – só faltava ser cor de rosinha para combinar!!! – Qu’esta merda, pá? Já pareço uma gaija a falar… Não isto não pode ficar assim, quer dizer, todo o meu legado e orgulho esbarra num pólo e numa camisa! Já nem estou em mim, puxo-a pela anca até ao bar, ela dissimuladamente resiste, mas sem muito esforço (pelo menos já se calou), peço um whisky duplo para cada (já nem me lembro se ela gosta ou não) e, como que possuído, puxo o brinde: “ Que tal matar saudades dos bons velhos tempos?” …
Ela com um ar lânguido puxa do whisky sorriu-me sem me responder, deu um grande gole e sussurrou-me ao ouvido “como nos velhos, velhos tempos???”
Sinto alguém a tocar-me no ombro e ao virar-me o amarelo canário quase me cegou. Só consegui vislumbrar um pacote de mortalhas. “Era isto que precisavas?” Atrás deste vinha a camisinha Saccor, com a sua cor merdosa, aproxima-se dela, põe-lhe a mão na anca, vira-se para o bar, pede um pisang ambom com laranja. Que bebida mais Gay, este gajo é mesmo um verdadeiro cromo! Pega na bebida verde escarro e balbucia qualquer coisa como “precisamos de falar!”. Ela olha-me pelo canto do olho manda-me um beijo aéreo, que mais parecia um helicóptero e diz-me “venho já!”. Sai ela, o camisinha Saccor e o verde escarro e desaparecem na multidão. O amarelo canário continua com o pacote de mortalhas na mão, estendidas, a olhar para aquilo tudo. Tiro 2 ou 3, agradeço e o gajo desaparece também no meio da multidão. Fico sozinho, eu, o meu whisky duplo e o whisky dela, que já não era duplo e que ela deixou ficar em cima do bar.
Preparo-me para pagar e reparo na morena do Bar. Estava de preto, elegante, nem alta nem baixa, cabelos longos ondulados e uma fita azul. Tinha um daqueles sorrisos capazes de nos fazer viajar. Pergunto-lhe quanto devo. Responde-me “Por ser para ti… nada”. Dei por mim a cavalgar no azul dos olhos dela, que condiziam perfeitamente com a fita que trazia no cabelo. Estava em constante frenesim; Servia várias bebidas em simultâneo e parecia ter entrado num malabarismo de copos e garrafas. Acordei com o cotovelo molhado e com as mortalhas coladas ao balcão do bar. “Porra lá para as gaijas!” E devo ter dito isto mesmo muito alto porque ela voltou-se (o suposto sujeito do bar também levantou a cabeça!), fixou o olhar dela no meu, sorriu e eu quase que me esqueci do cotovelo molhado, à medida que ela caminhava na minha direcção, sentia o meu corpo estremecer e um arrepio na espinha que mais parecia um raio a fulminar-me as ideias. “Desculpa… disseste alguma coisa?”
To be continued by Cat
Há 13 anos
5 comentários:
Gostei disto, espero que realmente haja continuações.
Já agora, posso perguntar qual foi a fonte de inspiração?
Sim vai haver continuação... vou tentar não demorar muito tempo :)
hum... Fonte de inspiração foi miss Caty que decidiu começar o jogo. Agora a fonte de inspiração de cada uma das mãos que escreveu este texto, isso aí... upa upa! Cada uma imaginou a sua história e essa é a parte que tem piada. aliás há incongruências no texto e na forma como se idealizou o espaço e a situação! Tem piada!
Muito bom Pat...estou a delirar com a nossa historinha...
A inspiração vem de um jogo que eu costumava jogar na escolinha... o do escreve uma frase, dobra o papel e deixa a ultima palavra para o próximo continuar. Neste caso parece-me uma forma de demonstrar NOVAMENTE que somos capazes de "seguir" umas às outras na perfeição...
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