4 de maio de 2009

Onde a cor começa

Virei a cabeça apenas por um segundo... Foi o suficiente para uma explosão de cores primárias pintarem o céu negro e sem estrelas daquela noite de Verão. Apenas um segundo para a música começar a tocar e todos os tolos começarem a pular em volta de uma fogueira improvisada no chão do terraço quente. Apenas um segundo para te perder de vista.Ainda tentei ir atrás do teu perfume mas a pólvora queimada toldou-me o olfacto e a visão. "Merda... Porra!" Procurei-te por toda a parte: fui até ao bar improvisado numa mesa de campismo, entrei no WC enfeitado com a fitinha cor de rosa, fui expulso do WC enfeitado com uma fitinha cor de rosa... encontrei as tuas amigas. Metade estava demasiado ocupada a falar mais alto do que as outras e o resto tinha o olhar colado no rabo do meu melhor amigo."Merda... Porra para as gaijas" e ali fiquei por um minuto ou dois a pensar no que me querias dizer... depois fui beber e tentar arranjar uma mortalha.“Onde raio te meteste-te?”, pensei mais uma vez enquanto aguardava que me servissem uma Vodka Red Bull… Vejo o suposto empregado de bar com a cabeça enfiada no meio das garrafas. “Será que mais uma vez acabou a vodka? Cambada de bêbedos”, penso eu. Ah, afinal parece que não…Olho em volta, de copo na mão… Quem será que me pode arranjar uma mortalha? De repente, vislumbro o teu casaco rosa paixão no meio da multidão! “Merda… Porra!” Não estás sozinha… Um gajo qualquer de t-shirt amarelo vivo está a falar contigo… Quem será o “canário”? Não me aproximo… Vou ficar a aguardar que o gajo baze, sem tirar os olhos de ti… Reparo então que ele está de charuto na mão. Se calhar consigo resolver duas situações de uma vez só… Aproximo-me, mas nem consigo abrir a boca, pois de repente aparecem as tuas amigas, saídas do nada, feitas tolas, a gritar “Shot! Shot! Shot!” e puxam-te para o meio da multidão.O gajo tenta meter conversa: “Conheces?”, pergunta ele. Continuo a ouvir os gritos das tuas amigas, mas já não te vejo… “Merda… Porra! E agora fico aqui a aturar este cromo?” Resolvo pedir-lhe uma mortalha rapidamente, para disfarçar e digo “Não, não…”Invento uma desculpa e saio dali o mais rápido possível. Tenho de ir ao bar! Ela tem de estar lá! E no meio da multidão, em direcção ao bar, só penso: “Como é que vou conseguir falar com ela, no meio de 10 gaijas?”
Sento-me.
A dúvida pisca dentro da minha cabeça qual néon verde alface.
Perdido em pensamentos velozes fico sem forças para continuar a procurar-te. Sinto-me sozinho no meio da multidão. Porra .. merda.. O que faço??.
Sem grande convicção olho para o bar, mas a única coisa que consigo ver são bailados de vestidos e cores que me confundem, me deturpam a visão e me fazem perder-te.
Bebo mais um golo para animar mas só penso em desistir. Tu não estás aqui, não te consigo encontrar, não consigo sequer encontrar a merda de uma mortalha.
Continuo sentado a observar os tolos que se deixam levar pela batida da música mas nem sinal de ti.
Começo a achar que sou mesmo estúpido. Não me ligas bolha, passeias-te com as tuas amigas, passas por mim e tratas-me como mais um dos teus milhões de amigos que encontras encostado ao bar a tentar sacar uma qualquer que lhe aqueça os pés por mais uma noite. Tanta gaja boa e eu só te quero a ti.
Acendo um cigarro, ouço os primeiros acordes de uma música que me faz viajar, começo a bater o pé, deixo-me levar pelas recordações até que uma mão fria pousa suavemente no meu ombro. Espreito. Do outro lado vejo um sorriso que me diz:
Olá, por aqui?

(to be continued by Anita Monforte)

1 comentário:

Caty disse...

Está a ficar tão lindo... Schuif! :)